segunda-feira, 12 de agosto de 2013

O último Dia dos Pais

Tenente Ferreira Homenagem

Faz 55 anos, mas todo ano vem à minha memória com imagens vívidas.

Foi em 1958 em São Vicente, morava na Rua Frei Gaspar perto do antigo Cine Maracanã. Minha mãe havia falecido há uns 6 meses depois de uma longa doença. Com todo o sofrimento que um câncer traz.

A casa que uma casa alegre se transformou num local triste. Quando minha mãe estava com saúde, nossa casa se tornava pequena. Ir à Santos e a São Vicente era uma aventura, a Via Anchieta tinha sido inaugurada há poucos anos, era uma obra arrojada para a época. Ou mesmo ir de trem com a mata Atlântica tão verde e perto. Muita gente vinha nos visitar, tínhamos nos mudado de São Paulo, amigos e parentes enchiam nossos fins de semana.

Minha mãe adoeceu, foram quase oito meses, que a transformaram de uma mulher forte, numa pessoa magra e acamada. Sua morte cheia de agonia, aliviada com injeções de morfina, foi um fim triste.

Nossa vida com sua falta nunca foi a mesma. Uma profunda tristeza por sua morte prematura. Um banzo, dor de saudade inestimável.

Meu pai sentiu forte a falta da companheira de trinta e poucos anos, eu sentia um amor uma paixão entre os dois, que admiro até hoje. Modelo de minhas relações onde companheirismos de luta misturavam com amor e paixão.

Dona Jadyr Recorte 2  

Dona Jadyr

Depois de sua morte meu pai falava de voltar à sua terra no norte de Minas Gerais, Riacho dos Machados, de onde saíra com 13 anos e nunca mais voltara. Região de remanescente de quilombo, região violenta onde a lei das armas imperava.

Meu pai tinha muitas histórias, de seu envolvimento com revoluções, militar da infantaria do Exército, as marcas e cicatrizes no seu corpo eram um relato fiel. Participante das revoltas dos tenentistas, de 1924, 25, 30 e de 1932 onde teve sua perna esquerda metralhada nos Combates do Tunel da Mantiqueira. Um orgulho me vem ao peito ao me lembrar de seu ensinamentos e exemplo.

Naquele ano de 1958, na casa triste em que se transformara, insistiu que eu fosse para a casa de minha irmã Leda em São Paulo. Não queria ir, passar o Dia dos Pais com ele. Mas a tristeza para um garoto de 11 anos, numa casa vazia era muita. Jair meu irmão mais velho, morando em São Paulo, minhas irmãs casadas fora de São Vicente.

No domingo Dia dos Pais em São Paulo, outra minha irmã Cida chegou de Presidente Prudente, e insistiu que fossemos para São Vicente para passarmos o dia com nosso pai. Contei que ele queria ficar sozinho, que estava bem tinha feito uma bateria de exames.

Minha irmã continuou insistindo, tinha tido um sonho com ele. Premonições.

Fomos e passamos um domingo maravilhoso, meu pai apesar de dizer que queria estar sozinho ficou muito alegre com a presença dos filhos mesmo com a ausência de minha mãe. Voltamos para São Paulo.

Na terça-feira voltando para casa meu pai caiu, vítima de um ataque cardíaco em frente ao Hospital São José.

Militar guerreiro, tantas lutas e revoluções morreu idoso num suspiro como um passarinho...

Todo Dia dos Pais penso naquele ano de 58, que meu pai Tenente Ferreira diza que queria passar sozinho, e a alegria de ver seus filhos reunidos no útimo Dia dos Pais que passamos juntos.

São Vicente2 11 016

Túmulo em São Vicente onde estão enterrados Dona Jady e o Tenente Ferreira. Ao fundo o Memorial aos Revolucionários de 1 932

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