segunda-feira, 4 de março de 2013

Enfermeiras negras no Exército EUA

Enfermeiras negras no Exército do EUA na Segunda Guerra Mundial

 

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A luta pela participação do negro na Segunda Guerra Mundial nos Estados Unidos (1941/1944), na época o EUA um país onde existia a “segregação racial” impedindo o uso dos direitos para membro com base na origem étnica de grupos. Importante foi a participação como garantia de direitos civis dos cidadãos.

O “Black Army Nurses” aceitou apenas um pequeno número de enfermeiras negras durante a Segunda Guerra Mundial. Quando a guerra terminou em setembro de 1945 apenas 479 enfermeiras negras estavam servindo em um corpo de 50 mil por causa de um sistema de cotas impostas pelo Exército “segregado” durante o rápido tempo de dois anos da guerra forçando o número de alistamento de negros. Em 1943, por exemplo, o Exército limitou o número de enfermeiras negras no Corpo de enfermeiras para 160. Autoridades do Exército argumentou que as atribuições disponíveis para enfermeiras negras foram limitados porque eles só foram autorizados a cuidar de soldados negros em enfermarias ou hospitais exclusivos. Mas a reação pública desfavorável e a pressão política forçou o Exército a abandonar o seu sistema de cotas em 1944. Posteriormente, cerca de 2.000 estudantes negros matriculados no programa do Corpo de Enfermeiras Cadetes (Cadet Nurse Corps), e escolas de enfermagem para os negros beneficiaram aumento do financiamento federal.

 

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A primeira unidade médica negra implantada no exterior foi a 25 Estação Unidade Hospitalar, que continha 30 enfermeiros. A unidade foi para a Libéria em 1943 para cuidar de tropas dos EUA que protegem aeroportos estratégicos e plantações de borracha. A malária foi o problema de saúde mais grave que as tropas encontraram. Embora os pacientes de malária exijam uma quantidade intensiva de cuidado, muito desse trabalho foi de rotina e pode ser prestado por paramédicos treinados.

Fontes:

African American Women in the Military and at War:

Black Army Nurses

domingo, 3 de março de 2013

O olhar fotográfico sobre os negros de ganho

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No Rio de Janeiro na década de 1860 o olhar do fotógrafo José Christiano de Freitas Henrique Júnior, registra momentos significativos da vida da cidade, na época capital do Brasil. Com uma população aproximada de quase 270 mil habitantes, onde 110 mil eram escravos. A maior concentração urbana de trabalhadores escravos desde o fim do império romano.

A enorme e variada composição de tipos humanos mostra a quantidade de grupos étnicos formadores da nossa nação.

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O fotógrafo Christiano Júnior, como assina suas fotos, traz os cativos ou libertos para seu estúdio e recria suas atividades profissionais. Mostrando carregadores e os chamados “negros de ganhos” homens e mulheres trabalhando como vendedores nas ruas, e o lucro ao final do dia é entregue ao proprietário como paga do “ganho”. Produtos como água, cestos, flores, legumes, aves, livros, sapatos, facas, moringas, cristais, porcelanas, doces, roscas e bolos transportados à cabeça em latas ou caixas.

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Inicialmente em Maceió, muda-se para o Rio de Janeiro e associa-se com Fernando Antônio de Miranda no estúdio “Photographia do Commercio” depois entre 1866 e 1875, fica sócio de Bernardo José Pacheco na firma “Christiano Jr.& Pacheco”, onde produz seus cartões com pessoas de origem africanas, escravas ou libertas encenando suas atividades profissionais no estúdio.

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Quem seria os consumidores das fotos-cartões? O anúncio publicado no “Almanaque Laemmert”, de 1866 são apresentados os serviços do fotógrafo: “Variada colecção de costumes e typos de pretos, cousa muito própria para quem se retira para Europa". São mostrados os “tipos de negros” classificados pelas atividades exercidas. Com legendas "Tipos africanos", "Escravo cesteiro", "Escravo vendedor de cadeiras", etc. Não existe o individuo, são sempre retratadas de pé, de frente e de perfil mostrando características físicas, roupas, e instrumentos dos seus “ganhos” e ofícios.

Os instrumentos de trabalho são dos senhores, apesar da dignidade dos retratados, há uma rigidez forçada, não encarando a objetiva. São cartões postais mostrando o lado exótico para uma visão eurocêntrica. Um cativo subordinado e disciplinado. As fotos não trazem as tensões do forte movimento abolicionista da época, onde fugas e revoltas traziam os ideais de liberdade.

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Nesse sentido, concordo com Sandra Koutsoukos, quando afirma que as fotos dos negros escravos são possuidoras da preocupação de se montar a cena da mesma forma que se faz com as fotografias tiradas dos homens livres. A diferença está no fato de que nas imagens retratando escravos, "[...] os signos que distinguiriam sua classe social (...)" são outros. Além disso, completa a autora, nessas fotografias podemos encontrar indícios da participação "[...] dos escravos na construção daquele que poderia ser o seu retrato, através de sua indumentária típica (muitos se apresentavam com suas próprias roupas; um acordo com o fotógrafo, com certeza), seus instrumentos de trabalho, suas expressões, seus olhares, suas poses, seus penteados e suas cicatrizes étnicas".

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Além das cenas retratadas, está a apropriação do ofício, do empreendedorismo do africano ou descendente de conseguir com seu trabalho um meio para pagar a sua liberdade. Acumular bens com seu esforço e empenho.

 

 

Um olhar diferenciado, da visão tradicional do negro preso na senzala. Sem capacidade, sem empenho, preso à sua própria prisão mental de “ser escravo”. Surgem homens e mulheres, livres que foram escravizados lutando por sua dignidade e liberdade.

Fontes:

Fotos Coleção Christiano Jr. IPHAN

Enciclopédia Itaú Cultural

Sandra Sofia Machado KOUTSOUKOS. No estúdio do fotógrafo: um estudo da (auto) representação de negros livres e escravos no Brasil da segunda metade do século XIX. Campinas:

Jacob GORENDER. In: “A face escrava da corte brasileira”. In: Paulo César de AZEVEDO e Maurício LISSOVSKY. Escravos brasileiros do século XIX na fotografia de Christiano Jr. (1864-1866)

sábado, 2 de março de 2013

Michelle Obama rebate críticas após o Oscar

Numerosas críticas surgiram em relação a apresentação efetuada por Michelle Obama. Enquanto uma primeira dama é criticada por sua exposição na mídia, usam-se modelos loiros e de olhos azuis (coloridas com Photoshop) para representar uma “Rainha Africana”. Michelle Obama é um exemplo de mulher negra belíssima. E com dignidade responde às críticas.

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A primeira dama abriu o envelope lacrado do Oscar 2013 em link ao vivo direto da Casa Branca, e recebeu crítica com respeito à sua apresentação.

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"Isso é apenas a natureza da vida. Quer dizer, vivemos em um momento em que blogueiros e twitteiros produzem notícias 24 horas por dia e todos têm seu lugar ao sol. Isso é um grande problema. Significa que a qualquer momento alguém não vai gostar do que a gente faz. Essa é a natureza das coisas", argumentou a senhora Obama.

Michelle com toda sua classe de primeira dama colocou as críticas como fato comum, não uma crítica pessoal. "Não é somente sobre mim. Isso só aconteceu por eu estar sob os olhos do público. Quando se é uma figura pública, você está sujeito à conversas, opiniões e tudo a que isso envolva. Não há nada de novo sobre isso", encerrou o assunto durante uma conversa com os jornalistas.

Ela disse que ficou impressionado com o burburinho sobre o corte de seu cabelo para adicionar uma franja, que ela lançou em seu aniversário, pouco antes de fim de semana.

Após sua participação no Oscar, o porta-voz de Michelle enviou um comunicado à imprensa explicando a situação. "A Academia fez contato com a Primeira Dama para que ela participasse da cerimônia. Como uma amante do cinema, ela teve a honra de apresentar o prêmio e comemorar com artistas que inspiram a todos".

Fonte: http://www.huffingtonpost.com/2013/03/01/michelle-obama-oscars-criticism_n_2788512.html?utm_hp_ref=entertainment

Revista se desculpa por colocar falsa modelo negra

Desculpas da Revista francesa "Numéro" por escurecer loira. Desculpas à sério?

Após receber duras críticas por escurecer uma modelo loira num editorial em homenagem África a publicação divulgou um pedido de desculpas na quarta-feira dia 27.

No número a modelo aparecia no antes e no depois:

 

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“Queremos pedir desculpas a todos que possam ter- se sentido ofendidos com o editorial”, diz o comunicado.

A revista ainda defende o renomado fotógrafo Sebastian Kim, responsável pelas imagens e colaborador assíduo da revista.

“Temos o máximo respeito pelo trabalho do fotógrafo e negamos que ele tenha tido, a qualquer momento, a intenção de ferir a sensibilidade dos leitores", completa.

O recente editorial da revista, nomeado de "Rainha Africana", trazia a modelo americana Ondria Hardin, que é naturalmente loira, com a pele negra. A modelo passou por um processo de maquiagem e edição de imagem para ficar com a pele escura.

Por este fato, o editorial da publicação foi considerado racista por muitas pessoas, afinal uma branca estampa a capa e interpreta uma negra. Alguns sites, como o "Fashion Bomb Daily", levantaram a questão de que a indústria da moda está obcecada em transformar modelos brancas em negras.

 

Desculpas à Sério?

Se eles queriam uma modelo negra, deveriam ter contratado uma das modelos fantásticas e lindíssimas que existem no mundo da moda. Em vez disso, fazem algo que mostra claramente o quanto fazem para não contratar uma mulher negra.

Em 2010 a revista publicou a modelo Constance Jablosky que é branca com a pele extremamente bronzeada.

A argumentação era que o modelo tinha apenas o excesso de bronzeado, mas quando você mistura isso com os bebês de origem afro é difícil dizer que isso não foi intencional.

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Se eles queriam uma modelo negra, deveriam ter contratado uma das modelos fantásticas e lindíssimas que existem no mundo da moda. Em vez disso, fazem algo que mostra claramente o quanto fazem para não contratar uma mulher negra.

E parece que a polêmica rende...

 

Fontes:

http://www.huffingtonpost.com/2013/02/27/numero-magazine-blackface-apology-african-queen_n_2772670.html

http://perezhilton.com/cocoperez/2010-09-24-numero_magazine_accused_of_doing_blackface_on_model_constance_jablonski#.UTGYUaKmjfG

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

A Rainha africana do Photoshop

Uma rainha africana com a pele pintada?

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Modelo de pele clara é pintada para encarnar rainha africana em ensaio

Modelo americana loira e de pele clara é pintada para encarnar uma rainha africana na edição de março da revista Numéro, numa polêmica com o editorial africano com roupas coloridas e o jeito étnico.

A revista francesa gerou controvérsia por usa uma modelo branca e loira e de olhos azuis, para fotos de uma rainha africana.

A revista Numéro escolheu a modelo Ondria Hardin, de 16 anos apresentando-a ao natural loira e de olhos azuis, para em seguida encarnar uma mulher negra.

Críticos dizem que se a revista queria uma rainha africana uma mulher negra, deveria simplesmente contratar uma modelo negra. Existem modelos negra belíssimas.

Um caso insultante, ainda mais quando trata-se de uma publicação que pretende homenagear a beleza africana com o título “Rainha Africana”. Soa bastante irónico.

A rainha negra do Photoshop

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Ondria Hardin (à esquerda), modelo loira e branca, foi a escolhida para o editorial inspirado na África. A top teve sua pele escurecida por photoshop para passar por negra nas imagens (à direita e abaixo)

A polêmica, gira em torno da escolha da modelo que não foi feliz. Ondria Hardin, loira e branca, teve sua pele pintada de negra para o editorial em questão, atitude que causou críticas fortes à revista, defendendo a presença de mais modelos negras no mundo da moda.

 

A revista recebe críticas pesadas pelos defensores de mais modelos negras no mundo da moda.

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“Exagero” como alegam sempre, quando surgem críticas?

Qual a sua opinião?

Fonte: http://es.astrology.yahoo.com/blogs/soy-fashion-victim/es-la-reina-africa-una-modelo-blanca-pintada-144814425.html

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Um exemplo para vencer o racismo e preconceito

"DOIS IRMÃOS DEU EXEMPLO AO BRASIL"

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Conheça a inspiradora história de Tânia Terezinha da Silva, a primeira prefeita negra de uma cidade gaúcha colonizada por alemães; "no Brasil, o racismo existe, mas é velado", afirma

13 DE FEVEREIRO DE 2013 ÀS 09:25

Samir Oliveira, do Sul 21

Tânia Terezinha da Silva desembarcou na cidade de Dois Irmãos pela primeira vez no início da década de 1990. Nascida e criada na Vila Rosa, em Novo Hamburgo, ela resolveu tentar a sorte em um concurso público para técnico em enfermagem – profissão que aprendeu durante o Ensino Médio, na escola Santa Catarina. "Eu não sabia que, a partir daquele momento, minha vida iria mudar", conta.

Ela conseguiu, na época, ficar em primeiro lugar no concurso. Durante os dois primeiros anos, dividia seus dias no percurso entre Dois Irmãos e Novo Hamburgo, onde o marido e os filhos moravam. "Mas aí comecei a me apaixonar pela cidade, que é simples e tranquila. Os pátios das casas não tinham grades, eram abertos. Pensei: é nesse lugar que quero criar meus filhos", recorda.

Quando decidiu se mudar para a cidade de 27 mil habitantes e forte colonização germânica, Tânia sequer possuía filiação partidária e jamais poderia imaginar que um dia fosse ser eleita a primeira prefeita mulher e negra do município.

No início, logo que chegou na cidade, começou a trabalhar em uma unidade móvel de saúde. "Percorríamos todos os bairros e escolas, então pude conviver com muita gente. Íamos inclusive para localidades onde as famílias falam quase que exclusivamente alemão", comenta.

Em 1995, veio o convite para que se filiasse ao PMDB e, em 1996, Tânia conseguiu se eleger a quarta vereadora mais votada da cidade. Cargo que ela considera "ingrato", já que o parlamentar não pode formular leis que impactem no orçamento municipal.

Em 2000, ao não conseguir a reeleição, ela assumiu a coordenação do posto 24 horas que, na sua definição, é uma espécie de HPS de Dois Irmãos. "Todas as urgências do município se concentram lá".

Foi no posto que Tânia continuou colocando em prática a premissa que adota e que a levou a optar pela área da saúde. "Sempre trabalhei no atendimento à pessoa como um todo. Quando vamos vacinar uma criança, não podemos olhar somente a carteirinha e o braço. É preciso olhar o entorno. Como está essa criança e sua família?", explica.

Ela estava gostando tanto do trabalho que se recusou a participar das eleições de 2004, apesar dos apelos do partido para que concorresse. Em 2008, tentou manter a mesma postura, mas acabou sendo persuadida, já que o PMDB precisava cumprir a cota de 30% de mulheres na nominata para a Câmara Municipal.

Quando abriram as urnas, a surpresa: 2.055 votos, marca ainda imbatível na cidade. Em 2012, o vereador mais votado obteve 1.471 votos. Neste mandato, ela conseguiu a unanimidade dos colegas para ser a presidente da Câmara.

A campanha à prefeitura

Após o desempenho eleitoral de 2008, o nome de Tânia Terezinha da Silva apareceu em primeiro lugar em todas as pesquisas realizadas pelos partidos de sua coalizão (PMDB-PP-PTB) para a disputa pela prefeitura de Dois Irmãos. Foi assim que ela acabou sendo escolhida candidata, numa chapa ao lado do atual vice-prefeito Jerri Adriani Meneghetti (PP), a quem ela chama de "menino".

"Os partidos tiveram muita coragem ao acreditar no meu nome e no do Jerri. Ele é um jovem de 33 anos. Eu o chamo de menino. Não que eu seja muito velha", brinca a prefeita, que aparenta ter menos que os 49 anos de vida que possui.

Tânia garante que campanha foi feita de porta em porta, sem grandes aparatos. "Nos grandes municípios, existe muito marketing político. Nas cidades pequenas, a campanha é no corpo a corpo. As pessoas querem a visita do candidato", observa.

A agenda iniciava às 7h da manhã, na porta das fábricas. Às 8h30, Tânia iniciava a visita nas casas da população. O horário não foi escolhido por acaso. "É nesse horário que acaba o programa da Ana Maria Braga. As pessoas gostam de assistir, não dá pra incomodar", entende. O mesmo ritual era repetido à tarde, quando as visitas começavam somente depois das 14h, pois a candidata procurava respeitar "a dormidinha que as pessoas dão depois do almoço".

A prefeita diz que não abre mão do contato direto com a população. "A pessoa te olha no olho e precisa desabafar sobre os problemas. Esse encontro com o eleitor é mágico", classifica. Ela entende que os políticos deveriam se fazer mais presentes junto à população. "Muitas vezes nós, políticos, deixamos de ir aos lugares por medo de sermos cobrados pela população. Temos o dever de ir, mesmo sendo cobrados. A pessoa pode até reclamar que não estou conseguindo resolver algum problema da cidade, mas não vou deixar de estar presente, não serei omissa. Precisamos enfrentar as situações de cabeça erguida", aconselha.

O resultado desse trabalho na campanha veio no dia 7 de outubro de 2012, quando a maioria dos 19.285 eleitores que compareceram às urnas escolheram Tânia. Foi uma vitória apertada: 9.450 votos para ela e 8.840 votos para o ex-prefeito Gerson Schwngber (PT).

"Racismo no Brasil é velado"

Tânia Terezinha da Silva despista ao ser questionada sobre o racismo em cidades pequenas do Rio Grande do Sul. "Não posso dizer que existe nem que não existe preconceito e racismo em cidades menores", tangencia. Mas reconhece que "no Brasil, o racismo existe, mas é velado".

"A cidade não enxergou minha cor de pele, não votou em mim por ser negra, branca ou amarela" | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Ela observa que, em uma cidade pequena, qualquer forasteiro é alvo de conversa nas rodas de chimarrão. "Mesmo se chegar uma pessoa loira de olhos verdes em uma cidade pequena, as pessoas se cutucam e comentam de onde ela vem e o que ela faz". A tática dela ao chegar em Dois Irmãos – numa época em sequer pensava que ingressaria na política institucional – foi esperar. "É preciso conhecer o ambiente e deixar o ambiente te conhecer. Não posso dizer que sofri preconceito devido à minha cor em Dois Irmãos", confessa.

Tânia considera que a cidade mandou uma mensagem com sua eleição. "Dois Irmãos deu um exemplo ao Rio Grande do Sul, ao Brasil e a todos nós, negros. A cidade não enxergou minha cor de pele, não votou em mim por ser negra, branca ou amarela. Votou por acreditar que podíamos fazer o melhor pela comunidade", entende.

O único ressentimento da prefeita é justamente a repercussão que sua vitória está tendo. "A eleição teve um impacto e uma mídia muito grandes, eu não esperava. Isso serve para uma reflexão: eu não gostaria que minha vitória tivesse repercussão. Eu gostaria que fosse a coisa mais normal do mundo. Não gostaria de aparecer na imprensa por ser a primeira mulher e primeira negra prefeita de Dois Irmãos", desabafa.

Tânia é uma apreciadora das metáforas. Gosta de dizer que a vida é como um rio e deve seguir um curso natural. Angustiada por não poder resolver todos os problemas da cidade de uma só vez, ela está aprendendo, em pouco mais de um mês como prefeita, que a burocracia e a administração eficiente impõem tempo aos gestores públicos.

"Muitas vezes as pessoas param na minha frente para pedir emprego ou atendimento em hospital. Temos que ter em mente o princípio da impessoalidade. O coletivo é maior do que uma pessoa pedindo melhorias. Sou cobrada já no primeiro mês, dizem que nada mudou. E sei que vou continuar sendo cobrada. Mas um edifício não se constrói de cima para baixo", diz, utilizando mais uma metáfora.
Enquanto realiza um diagnóstico sobre os problemas e soluções para Dois Irmãos, a prefeita tem muitos projetos em mente e, pelo menos, uma certeza: fará o possível para que sua mãe, que tem 84 anos, não tenha motivos para se preocupar com sua vida política.

"Na minha posse, ela ficou feliz e, ao mesmo tempo, com pena. Olhar de mãe é olhar de mãe. Sabe aquela música: 'Olha aí, é o meu guri, olha aí...'? Ela me olhava como quem pensa: 'Que bom que minha filha chegou até lá, mas coitada! Ela vai ser massacrada, vão judiar dela'.

http://www.brasil247.com/+z7s1s

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

“Paulistano é racista e SP vai ter turismo étnico”

Netinho diz que paulistano é racista e que SP vai ter turismo étnico

Secretário da Igualdade Racial diz que vai criar TV com conteúdo negro.
Plano para pasta inclui convênios com empresas privadas.

Tatiana SantiagoDo G1 São Paulo

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Netinho de Paula é o secretário da Promoção da Igualdade Racial (Foto: Tatiana Santiago/ G1)Netinho de Paula é o secretário da Promoção da
Igualdade Racial (Foto: Tatiana Santiago/ G1)

O secretário municipal da Promoção da Igualdade Racial de São Paulo, Netinho de Paula (PCdoB), que se licenciou da função de vereador para assumir a pasta na administração do prefeito Fernando Haddad (PT), diz que a sociedade paulistana é racista e que pretende criar uma TV para exibir conteúdo feito com "a visão da população negra".

A nova secretaria, que vai trabalhar de maneira integrada com outras pastas, ainda depende da aprovação dos vereadores da Câmara Municipal para nascer e deve ser votada em plenário após a volta do recesso em fevereiro. Apesar disso, Netinho já tem vários projetos para sua gestão, que pretende focar na mulher e no jovem negro.

“A gente precisa convencer a sociedade paulistana de que ela é racista, ela precisa entender que ela é racista. A partir do momento que ela se assumir como racista, ela pode trabalhar isso, porque a gente perde economicamente, a gente exclui uma sociedade que pode ajudar muito o país”, afirma Netinho, de 42 anos, em entrevista dada ao G1 no fim de dezembro, antes da posse do prefeito.

De acordo com o secretário, o mercado de trabalho é o local em que o negro sente maior discriminação e a pasta vai ter que colocar os dedos em algumas feridas sociais. “Eu costumo dizer que na periferia a gente não discute a questão racial, o problema é quando a gente vem para o Centro, onde estão as empresas e o poder econômico. A minha luta na secretaria é a questão do empoderamento.”

Entre os planos de melhoramento da cidade, Netinho diz que vai criar cursos de qualificação e parcerias com empresas privadas para inserção da população negra no mercado de trabalho em cargos de liderança. “A gente pode fazer um projeto de inclusão verdadeiramente grande em São Paulo, a exemplo do que é a cidade, para ter meninos [jovens negros] nos cargos mais valorizados. A gente não quer fazer qualificação só para garçom. Nada contra, mas acho que a gente pode mais”, declara. Para isso, ele diz que já marcou reuniões com o empresário Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), para debater o assunto.

O secretário diz também que a pasta pretende cuidar de demais minorias excluídas da cidade, como bolivianos, coreanos e outras etnias que sofrem com a desigualdade social. Para ele, o pouco investimento nas questões de igualdade racial contribuiu para o aumento da violência na cidade. Não está descartada a abordagem de temas como a diversidade sexual na secretaria. “Quando se fala de gênero, é natural essa demanda dentro da causa racial”, justifica.

Netinho (Foto: Arte/G1)

Conhecido até hoje pela sua trajetória artística como vocalista do grupo de pagode Negritude Júnior e apresentador de TV, Netinho de Paula diz acreditar que o fato de ser negro contribuiu para sua escolha como secretário da pasta. “Seria demagogo dizer que não, até porque tem muito a ver com a minha luta, com a minha história, de tudo que eu sempre defendi na televisão, na música.” Solteiro e pai de sete filhos (dois adotados), Netinho se envolveu em polêmica e virou notícia após bater na ex-companheira em fevereiro de 2005, a decoradora Sandra Mendes de Figueiredo Crunfli, com quem morava. Ele já disse ter se arrependido das agressões.

Cotas
Netinho, que é a favor da lei de cotas, diz que já conversou com Haddad sobre a implantação do sistema de cotas também no funcionalismo público municipal. Porém, não informa se a proposta será adotada na nova gestão e de que maneira funcionará o sistema.

O secretário filiou-se ao PCdoB em 2006. Dois anos depois, candidatou-se ao cargo de vereador e foi eleito com 84 mil votos. Em 2010, candidatou-se ao Senado, mas acabou derrotado, ficando em terceiro lugar, atrás de Aloísio Nunes (PSDB) e Marta Suplicy (PT). Em 2012, foi pré-candidato à Prefeitura de São Paulo pelo PCdoB. Apesar de aparecer com 13% de preferência na primeira pesquisa de intenção de votos, Netinho não concorreu ao cargo, pois o partido não conseguiu fazer alianças para conseguir tempo de propaganda na TV. "No início, o Paulinho, que era do PDT, tinha sinalizado que viria com a gente, mas duas semanas depois ele recuou, o que tornou muito difícil a gente defender a nossa candidatura", conta.

Sem ter como prosseguir com o sonho, concorreu novamente ao cargo de vereador no ano passado e foi reeleito. Em 1º de janeiro deste ano, ele se licenciou da função após ser diplomado para assumir a Secretaria de Igualdade Racial.

Investimentos
Para conseguir concretizar seus projetos, Netinho está articulando parcerias que, segundo ele, vão propiciar investimentos na secretaria. Ele conta que terá uma reunião com Judith Morrison, representante do Banco Mundial, para firmar convênios. “Fiquei muito feliz porque eles [representantes do banco] entendem que uma secretaria em uma cidade como São Paulo pode ter condição de implementar grandes programas.”

A nova secretaria deve ter uma estrutura de 35 a 40 funcionários. No entanto, não foi divulgada a verba disponibilizada. “Vai ser uma secretaria que vai ter um bom potencial para executar programas com orçamento considerável, mas também uma secretaria que vai trabalhar de maneira transversal dialogando com todas as outras secretarias, seja na educação, no transporte, no trabalho, em todos os segmentos”, afirma.

Televisão
Idealizador da TV da Gente, frequência que exibia conteúdo voltado para a população negra, Netinho pretende usar sua experiência como empresário de comunicação e apresentador de TV para criar um canal voltado para os paulistanos, mas com a "visão da população negra".

“O prefeito tem um compromisso comigo para que a gente possa viabilizar a frequência de um canal para dar visibilidade a todo material cultural nosso, onde a gente possa dialogar com as pessoas e exibir o conteúdo da população negra”, diz. Os recursos para a implantação e funcionamento da emissora podem ter participação da secretaria e de parcerias com empresas privadas.

Turismo
O novo secretário também estuda um turismo étnico na cidade e diz que entrou em contato com entidades negras para definir quais serão os pontos escolhidos. “A gente poder receber, dialogar e mostrar a nossa história na cidade. Isso tem muito a ver com autoestima e com geração de emprego. Estou conversando com o Flavio Dino, presidente da Embratur, para estruturar turismo étnico na cidade”.

Entre os pontos que devem fazer parte do roteiro estão locais em que os escravos moravam e igrejas construídas por negros, como a Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, no Largo do Paissandu.

http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2013/01/netinho-diz-que-paulistano-e-racista-e-que-sp-vai-ter-turismo-etnico.html