Os novos escravos
Dia 2 de dezenbro
Hoje é o dia internacional que evoca a abolição da escravatura. Mas esta não pertence apenas ao passado. Por tradição, porque um dia contraíram uma dívida ou porque foram vendidos pelas famílias os escravos modernos estão condenados a uma existência que não lhes reconhece quaisquer direitos.Há alguns anos li „Gente Descartável” do sociólogo Kevin Bales. Trata-se de uma monografia sobre escravatura moderna. Conta histórias terríveis como a de Bilal, que vende água em Noualchott, a de Siri, vendida pelos pais e obrigada a aceitar 15 ou mais clientes por noite no bordel onde trabalha e as histórias dos meninos que trabalham em fábricas de fogo de artificio na Índia. Nessas fábricas a pólvora queima-lhes os dedos e as bolhas que se formam são rebentadas com carvão ou cigarros acesos para que as crianças não parem de trabalhar.
Alguns nunca viram uma casa, nem uma cidade, nem o mar, nem um jardim. Dignidade, compaixão ou afecto são palavras desconhecidas nesse mapa de desumanidade.
Em pleno século XXI há ainda quase trinta milhões de pessoas condenadas a uma existência em que não lhe são concedidos quaisquer direitos. Abandonadas nos cantos mais inóspito do planeta : em África, na Ásia e, para nossa vergonha maior, na Europa. Abominável.
Vozes de África
(…)
Qual Prometeu tu me amarraste um dia
Do deserto na rubra penedia — Infinito: galé! …
Por abutre — me deste o sol candente,
E a terra de Suez — foi a corrente
Que me ligaste ao pé…
O cavalo estafado do Beduíno
Sob a vergasta tomba ressupino
E morre no areal.
Minha garupa sangra, a dor poreja,
Quando o chicote do simoun dardeja
O teu braço eternal.
Castro Alves
Por Helena Ferro Gouveia
em Domadora de Camalões
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