Dentro de mim a essência de ancestrais, características físicas,
morais e ideais, que mesmo sem entender ou compreender racionalmente, regem
minha vida.
Reproduzidos na minha família, sem explicação ou pedido de
licença, elas se manifestam. Físicas e morais, características não ensinadas por
normas ou preceitos, mas por exemplos, tornados modelos de tsunamis. No DNA dos
filhos a herança da liberdade.
Por parte de mãe e pai, trago o sangue dos “Imazighan”
(designação significando: “os homens livres” um dos povos mais antigos da
África, povo berbere chamados pejorativamente pelos árabes de “tuaregues” (em
árabe twâriq “salteadores” ou em outra versão ligando a palavra tuaregues a
“tawariq” significando abandonado por Deus), mostrando o desagrado dos árabes
aos Imazighan os homens livres “os homens azuis” vindo do turbante azul e roupa
que usam.
A família de minha mãe casava-se muito entre a família, primos
com primos, e aparências jeitos e trejeitos se repetem em gerações.
Caldeamentos, raças e origens. Conto ou falo à mim mesmo sobre o momento
importante de minha vida, ver aos setenta anos o meu primeiro neto. O
relacionamento entre meu filho e meu neto repete-se em atos, brincadeiras e
amor. O que eu recebi e tentei transmitir.
Sem territórios e relações de comprometimentos com vassalagens.
O vento direciona o meu destino, estive não estou, sem pesos nem culpas, viajo
leve de bagagens, trazendo experiências e sonhos, criando relações novas
construções e projetos.
Na descoberta de novos horizontes e desafios, encontrei no
sábado de Aleluia, um fogo que incendeia, alastra-se e amplia.
No Fotroca, no Palacete Carmelitas encontro entre
amantes de fotografia e fotógrafos. Compartilhamento de experiências, mundos e
tribos.
Na exposição de seus trabalhos fotográficos, os autores dos
livros contavam suas experiências de criação. A fotógrafa Carol Conti com seu
trabalho “Saudades da Avó” trazia reminiscência de sua infância, fotos da casa,
objetos, todo um sentimento de uma ausência presença de um companheirismo.
Lembranças que não deixarei para meu neto, histórias que sei que não
transmitirei pessoalmente, pois o tempo de partir é presente a cada instante.
Necessidade de contar histórias, casos, mostrar origens e caminhos. Saudades de
histórias, que tenho de deixar...
Daniela Lucheta com o “Cadê o menino” traz a mágica do momento
de quem registra e do registrado, uma relação de cumplicidade que experimentamos
a cada momento. Relações criadas ao primeiro clique, aprofundada sem palavras
nos gestos. Relação fantástica, surreal. Exposto em dois trabalhos um com fotos,
outro com ilustrações da Daniela e poesias haicai da Carol Conti, um trabalho de
parceria e entendimentos.
Pedro Clash com “O menino” (Boy) imagens de nostalgias em climas
frios de uma Inglaterra sem sol, a relação entre o homem e a criança seu
afilhado. Entre a dureza de praias de seixos, ventos gélidos combatidos com
pesadas roupas, uma banana tropical na mão da criança. Tocou-me forte, o
pensamento de sair do país e as relações novas em outras terras. A casca vazia
da banana, e as opções de liberdade da criança. Um filme em fotos, histórias sem
fim...
Ricardo Biserra criador do evento, em sua 41ª. edição, traz sua
marca de reinvenção constante. Criador de uma proposta alternativa, em constante
ebulição apresentou o seu trabalho “Dust” (poeira) o registro da visão da
periferia com seu espaço multicultural, uma área usada para jogos de futebol,
circos e parques. O “campinho” das nossas memórias presente nos confins dessas
megalópoles.
Rodrigo Pivas em “LINHASDACIDADE” mostra o encontro das linhas
arquitetônicas de São Paulo, criando em imagens desfocadas, manchas, recortes da
cidade transformada e recriada em sua imaginação. Voltei ao tempo em que
descobria, edifícios, espaços e imaginava o futuro.
Tantas histórias, experiências, compartilhamentos, calor humano
torna-se pequeno o mero relato de um Imazighan. Saímos eu “amajagh” (homem) e a
“tamajaq” (mulher) cumplices e parceiros, corações leves, pensamentos cheio de
projetos e promessas. Roupas azuis carrego minhas crenças caminhando para
Zambukaki.
Hugo Ferreira Zambukaki
Fotos Jô Muniz