Sou da geração que gostava de se denominar de “68” em
virtude das grandes manifestações mundiais que iniciaram-se na França e incendiaram
a juventude e o mundo.
Foto reprodução Wikipedia
Naqueles idos do século passado (bom lembrar que o tempo
passou), vivíamos numa área geográfica entre o Bar do Zé na Maria Antônia, a
Quitanda e o Bar Redondo em frente ao Teatro de Arena. E nesse entremeio as
Faculdades de Economia, Filosofia e Letras e a Sociologia e Política da USP,
como oposição o Mackenzie (na época fora o quartel do CCC –Comando de Caça aos
Comunistas) na “famosa batalha da Maria Antônia” em São Paulo.
Um forte clima de batalha ideológica existente no Brasil,
mostrava o seu enfrentamento no meio estudantil, uma divisão entre Brasis...
Hoje as manifestações são na Avenida Paulista, e o mesmo clima de intolerância,
volta a existir. Armam-se locais diversos para os prós e contras do Impeachment
à ser votado no Planalto. Bandeiras Vermelhas e Verde Amarelo, e nós que nas
Diretas usamos o Amarelo como bandeira e o vermelho flutuava tranquilo...
Morava na rua Caio Prado, numa república, a Cidade
Universitária na época usada como forma de dissociar os estudantes do centro da
cidade que era no hoje chamado centro histórico, ainda erguia e com enorme
relutância dos estudantes para ocuparem, um local longe do centro. As únicas
faculdades que conseguiram o seu direito de permanecer foram a de Direito do
Largo São Francisco e a Faculdade de Sociologia e Política.
Flyer da Casa Elefante
Domingo estive na rua Cesário Mota, 277 na Casa Elefante
misto de bar, espaço artístico, apresentações, enfim tudo o que a Vila Buarque
representou e representa. Um dos autores da proposta da Casa Elefante, Pedro
Clash nos recebeu e deu um lindo flyer com imagem nostálgica de um menino num
cais olhando o mar num horizonte longínquo.
Pedro numa apresentação do Fotroca, contava de como essa série
foi feita na Inglaterra, outras fotos mostram o menino (seu sobrinho e
afilhado) com uma banana mordida na mão. Pedro contava que a situação foi
desenvolvendo-se entre o fotógrafo (ele) e o menino numa interação entre parentes
e as imagens retratam esse momento mágico.
Foto do ensaio de Pedro Clash (Boy)
Você cria uma obra, e ela é recriada na mente dos que
interagem. Em mim bateu forte e doído... Tenho uma filha no exterior que
indignada com a situação no país, encontra como solução o aeroporto. Imaginei
no sobrinho de Pedro na Inglaterra, o meu futuro neto (a) num cais vazio. Crio
e imagino histórias e causos nas fotos do Pedro Clash, inexistentes mas reais
na minha mente.
O que aparentemente é uma conversa do “Samba do Crioulo
Doido” do Staniswlau Ponte Preta, contado o drama de autor de samba-enredo da
época da ditadura, onde com muita informação você confunde e embaralha tudo, é
um questionamento de uma época em que vivemos onde pede-se a volta da Ditadura,
(Staniswlau poeta, dramaturgo intelectual morreu envenenado, coisas da época da
ditadura). Hoje os interesses ocultos são tantos que você sente-se como num
verso de Alceu Valença “um boi no meio da multidão”...
Voltar à Vila Buarque, perto da Biblioteca Monteiro Lobato,
próximo à Faculdade de Sociologia e Política, entrar na Casa Elefante (misto de
sarau, brechó e eventos) mostra como a vida era e é esfuziante na Vila Buarque.
O criador cultural não é uma ilha, nem dá para ser um homem de sete instrumentos,
há uma necessidade de compartilhamentos, saberes e conhecimentos. Compro livros
da do Ricardo Bissera da “Editora Direto do Produtor”, e um cordel fotográfico
do Sebá Neto produções independentes e artesanais, feliz da vida saio com uma
sacola de plástico vermelha, com alegria e sem medo.