John Boswell, estudioso católico na Universidade de Yale, EUA, publicou há 20 anos o livro “Uniões do mesmo sexo na Europa pré-moderna”
John Boswell, estudioso católico na Universidade de Yale, EUA, publicou há 20 anos o livro “Uniões do mesmo sexo na Europa pré-moderna” que exemplificou centenas de casos documentados de uniões entre pessoas do mesmo sexo oficializadas pela Igreja católica apostólica romana. A pesquisa aponta que a proibição surgiu durante a Idade Média. O livro ganhará versão digital este mês e vem em tempo de reacender a polêmica ao casamento gay.
Em 1980, um trabalho de Boswell, que dedicou sua vida a pesquisar a fundação da igreja romana e católica já chamou atenção às evidências. “Cristianismo, Tolerância Social e Homossexualidade: Pessoas gays na Europa Ocidental a partir do início da era cristã para o século XIV” reuniu arquivos espalhados por toda a Europa de uniões e sociedades entre pessoas do mesmo sexo. A Igreja, no século XIII reformulou o casamento, criando a reprodução como sua justificativa principal. Ao mesmo tempo, proibiu o sexo banal. O casamento era antes apenas um contrato de famílias, algo diferente da visão que temos hoje.
Até tal período, homens homossexuais eram tolerados no Império Romano. O livro cita o relato de enterros e casamentos de dois homens ou duas mulheres, com rituais idênticos aos de casais heterossexuais. “Em 342, o Código de Teodósio, imperador de Roma, proibiu casamentos entre homens, evidência de que eles existiam”. “ Sérgio e Baco, ambos soldados romanos do final do terceiro século, que, unidos por estreita amizade, terão coabitado. Terminaram executados por recusarem-se a abjurar da sua fé cristã”. Diz matéria preliminar apresentada aqui na Lado A, na Coluna Para Pensar, com o título “O casamento Guei existiu”, do filósofo e colunista Arthur Virmond de Lacerda Neto.
“O imperador bizantino Basílio I (867-886), antes da sua entronização, participou de cerimônias desta natureza duas vezes, como nubente: na primeira, uniu-se a Nicolau; na segunda, a João.
Uma gravura medieval mostra-o, na sua boda com João, diante de um padre cristão e do evangelho aberto, em uma igreja. No século XII, multiplicam-se as versões escritas dos rituais dos matrimônios homossexuais, vedados aos monges. Havia velas acesas, aposição das mãos sobre os Evangelhos, união das mãos direitas dos nubentes, cingimento das mãos ou das cabeças deles com a estola usada nas cerimônias heterossexuais, preces, comunhão, beijo e, por vezes, cirandas à volta do altar.
Em 1578, Montaigne testemunhou, na igreja de S. João da Porta Latina, uma cerimônia de união de portugueses: empregaram os textos núpcias e comungaram, após o que, cearam em comum e deitaram-se juntos. A cena foi testemunhada também pelo embaixador de Veneza.
Segundo Montaigne, especialistas romanos afirmavam que, desde que o sexo entre homem e mulher somente pelo casamento se legitima, parecera-lhes justo autorizarem-no entre homens, por igual motivo”. São alguns trechos do livro Homossexualidade. Uma história; Record, 1999 de Colin Spencer.
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