quarta-feira, 17 de julho de 2013

Protestos nos EUA contra o resultado do julgamento

Protestos contra a absolvição de Zimmerman voltam às ruas nos EUA

Veredicto sobre vigia que matou garoto negro Trayvon Martin gerou revolta.
Protestos estão marcados para sábado (20) em 100 cidades dos EUA.

Manifestantes inconformados com a absolvição do vigia branco George Zimmerman, acusado de matar o jovem negro Trayvon Martin, na Flórida, voltaram às ruas de Los Angeles, no estado americano da Califórnia, na noite desta segunda-feira (15).

Milhares de pessoas protestaram contra o resultado do julgamento.

A manifestação começou pacífica nas principais ruas de Los Angeles, mas saiu do controle em vários pontos e houve confrontos com policiais.

Manifestantes atacaram pessoas nas ruas e no trânsito e depredaram lojas.

Treze pessoas foram presas, segundo a prefeitura.

Cerca de 150 pessoas danificaram várias lojas ao tentar se aproveitar da absolvição de George Zimmerman do assassinato de Trayvon Martin em 2012, informou em sua conta no Twitter o prefeito de Los Angeles, Eric Garcetti.

Estigma racial
O resultado do julgamento reacendeu o estigma racial nos EUA, levando o presidente Barack Obama a pedir calma à população.

Milhares de pessoas foram às ruas em Nova York, Los Angeles, Chicago e Atlanta, entre outras cidades, para protestar contra o polêmico veredicto alcançado por um júri composto por seis mulheres (cinco brancas e uma de origem hispânica), que declarou Zimmerman, de 29, inocente da morte de Trayvon Martin, de 17.

Na madrugada de segunda-feira, ao menos seis pessoas foram presas durante um protesto, que foi declarado ilegal pelas autoridades.

Em Nova York outras 15 pessoas foram detidas por conduta desordeira, segundo a polícia, mas foram libertadas no mesmo dia.

Novos protestos
Outros protestos estão marcados para sábado em 100 cidades dos EUA. "Haverá manifestações neste sábado (20) em cem cidades e diante de prédios federais, para pressionar o governo e defender nossos direitos cívicos", anunciou Al Sharpton, líder da Rede de Ação Nacional (National Action Network, NAN), organização de defesa dos direitos cívicos. Ele se declarou confiante de que o governo federal vá rever o caso.

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Cartaz diz que o povo considera George Zimmerman culpado da morte do jovem Trayvon Martin. (Foto: Jonathan Alcorn / Reuters)

O julgamento que terminou no sábado (13), em Sanford, centro da Flórida, dividiu o país entre os que acreditam que Zimmerman, um americano de mãe peruana, agiu em legítima defesa e aqueles que pensam que o vigia foi motivado por preconceito racial contra Martin. Zimmerman foi acusado de perseguir e atirar em Martin, que estava desarmado, durante uma briga entre os dois na noite de 26 de fevereiro de 2012.

"É uma vergonha que, em 2013, tenhamos um veredicto que legitima o assassinato de um negro porque se aceita o uso das armas de um civil contra outro", disse à AFP Amanda Hooper, uma jovem estudante de Nova York que estava de visita a Sanford e acompanhou as manifestações na frente do tribunal.

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A polícia de Los Angeles prende uma mulher após protesto no Bairro Leimert Park, Los Angeles. (Foto: Jason Redmond / Reuters)

No domingo (14), após a explosão dos protestos, o presidente Obama pediu calma. "Sei que esse caso provocou intensas paixões. No dia seguinte ao veredicto, sei que essas paixões podem se intensificar. Mas somos um estado de direito, e um júri falou", afirmou Obama, em nota à imprensa.

'Supremacia branca'
No ano passado, o caso já havia provocado manifestações em massa em várias cidades do país, que fizeram o presidente desabafar: "Se tivesse tido um filho, ele seria parecido com Trayvon". Na época, Obama convocou um debate sobre o racismo e a lei de armas da Flórida, que ampara a defesa pessoal.

Em contrapartida, o veredicto de sábado foi aplaudido por defensores das armas, por todos aqueles que apoiam a lei conhecida como "Stand Your Ground" (Defenda sua posição, em tradução livre). Essa lei permite o uso de armas por parte de quem se sentir ameaçado de morte.

Até o momento, os moradores da Flórida reagiram com calma. No sermão de domingo, as igrejas incluíram mensagens de paz pelo veredicto, além de pedir que a luta por justiça seja travada nas instâncias adequadas.

Valerie Houston, uma influente pastora da igreja Allen Chapel AME em Goldsboro, o bairro negro de Sanford, citou o líder Martin Luther King em seu sermão de domingo, para lembrar que "a violência (em resposta) à violência apenas traz ódio". Ainda assim Valeria afirmou que, com a decisão judicial, "o dia a dia do meu povo ainda está escravizado pela sociedade da supremacia branca".

Os pais de Trayvon Martin, ausentes durante o veredicto, pediram manifestações pacíficas, citando Martin Luther King e a Bíblia.

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Policiais vigiam ruas de Los Angeles. (Foto: Kevork Djansezian / Getty Images / AFP Photo)

'Dúvida razoável'
As juradas que absolveram Zimmerman da acusação de assassinato em segundo grau - com a possibilidade de pena de prisão perpétua - e homicídio culposo - pena máxima de 30 anos de prisão - não explicaram as razões de seu veredicto, porque isso implicaria revelar sua identidade publicamente. O tribunal respeitou a escolha das integrantes do júri de manter o anonimato.

A decisão das juradas se baseou nas 27 páginas de instrução entregues pela juíza Debra Nelson, que incluíam duas seções com uma opção para declarar o réu inocente: uso justificado de força letal e dúvida razoável.

Antes do início das deliberações, na sexta-feira (12), a juíza disse ao júri que, segundo a lei da Flórida, "o homicídio de um ser humano é justificável e lícito, se for necessário, quando se resiste a uma tentativa de assassinato, ou se comete um crime grave em relação a George Zimmerman".

A Flórida é o estado com maior número de pessoas armadas nos EUA.

Durante quase três semanas, as seis integrantes do júri ouviram dezenas de depoimentos que podem ter criado uma 'dúvida razoável'. "George Zimmerman não é culpado, se existe uma 'dúvida razoável' de que agiu em legítima defesa", disse o advogado Mark O'Mara às integrantes do júri na sexta-feira, antes que começassem a deliberar. Ele insistiu nessa tese, quando comemorou o veredicto no sábado à noite.

Morte 'trágica e desnecessária'
No domingo, o Departamento de Justiça lembrou que há um ano continua aberta uma investigação federal sobre o caso e que pretende rever a possibilidade de uma ação civil.

Já o procurador-geral dos EUA, Eric Holder, lamentou a "trágica, desnecessária" morte de Martin. "Independentemente da determinação legal que foi adotada, acho que essa tragédia oferece uma nova oportunidade para a nossa nação falar honestamente sobre os problemas complicados e emotivos que esse caso apresentou", afirmou.

O governo deixou claro que manterá distância da polêmica e que Barack Obama não vai interferir na investigação federal sobre a morte de Trayvon Martin, declarou o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney. "Essa é uma decisão tomada pelo Departamento da Justiça, pelos promotores com experiência", afirmou Carney, em sua conversa diária com a imprensa, acrescentando que "esse não é um caso no qual o presidente esteja envolvido".

Fonte G1

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