domingo, 27 de março de 2016

Saudades de mim mesmo... Um homem azul.

Dentro de mim a essência de ancestrais, características físicas, morais e ideais, que mesmo sem entender ou compreender racionalmente, regem minha vida.
Reproduzidos na minha família, sem explicação ou pedido de licença, elas se manifestam. Físicas e morais, características não ensinadas por normas ou preceitos, mas por exemplos, tornados modelos de tsunamis. No DNA dos filhos a herança da liberdade.
Por parte de mãe e pai, trago o sangue dos “Imazighan” (designação significando: “os homens livres” um dos povos mais antigos da África, povo berbere chamados pejorativamente pelos árabes de “tuaregues” (em árabe twâriq “salteadores” ou em outra versão ligando a palavra tuaregues a “tawariq” significando abandonado por Deus), mostrando o desagrado dos árabes aos Imazighan os homens livres “os homens azuis” vindo do turbante azul e roupa que usam.
A família de minha mãe casava-se muito entre a família, primos com primos, e aparências jeitos e trejeitos se repetem em gerações. Caldeamentos, raças e origens. Conto ou falo à mim mesmo sobre o momento importante de minha vida, ver aos setenta anos o meu primeiro neto. O relacionamento entre meu filho e meu neto repete-se em atos, brincadeiras e amor. O que eu recebi e tentei transmitir.
Sem territórios e relações de comprometimentos com vassalagens. O vento direciona o meu destino, estive não estou, sem pesos nem culpas, viajo leve de bagagens, trazendo experiências e sonhos, criando relações novas construções e projetos.
Na descoberta de novos horizontes e desafios, encontrei no sábado de Aleluia, um fogo que incendeia, alastra-se e amplia.




No Fotroca, no Palacete Carmelitas encontro entre amantes de fotografia e fotógrafos. Compartilhamento de experiências, mundos e tribos.
Na exposição de seus trabalhos fotográficos, os autores dos livros contavam suas experiências de criação. A fotógrafa Carol Conti com seu trabalho “Saudades da Avó” trazia reminiscência de sua infância, fotos da casa, objetos, todo um sentimento de uma ausência presença de um companheirismo. Lembranças que não deixarei para meu neto, histórias que sei que não transmitirei pessoalmente, pois o tempo de partir é presente a cada instante. Necessidade de contar histórias, casos, mostrar origens e caminhos. Saudades de histórias, que tenho de deixar...

Daniela Lucheta com o “Cadê o menino” traz a mágica do momento de quem registra e do registrado, uma relação de cumplicidade que experimentamos a cada momento. Relações criadas ao primeiro clique, aprofundada sem palavras nos gestos. Relação fantástica, surreal. Exposto em dois trabalhos um com fotos, outro com ilustrações da Daniela e poesias haicai da Carol Conti, um trabalho de parceria e entendimentos.

Pedro Clash com “O menino” (Boy) imagens de nostalgias em climas frios de uma Inglaterra sem sol, a relação entre o homem e a criança seu afilhado. Entre a dureza de praias de seixos, ventos gélidos combatidos com pesadas roupas, uma banana tropical na mão da criança. Tocou-me forte, o pensamento de sair do país e as relações novas em outras terras. A casca vazia da banana, e as opções de liberdade da criança. Um filme em fotos, histórias sem fim...

Ricardo Biserra criador do evento, em sua 41ª. edição, traz sua marca de reinvenção constante. Criador de uma proposta alternativa, em constante ebulição apresentou o seu trabalho “Dust” (poeira) o registro da visão da periferia com seu espaço multicultural, uma área usada para jogos de futebol, circos e parques. O “campinho” das nossas memórias presente nos confins dessas megalópoles.

Rodrigo Pivas em “LINHASDACIDADE” mostra o encontro das linhas arquitetônicas de São Paulo, criando em imagens desfocadas, manchas, recortes da cidade transformada e recriada em sua imaginação. Voltei ao tempo em que descobria, edifícios, espaços e imaginava o futuro. 
Tantas histórias, experiências, compartilhamentos, calor humano torna-se pequeno o mero relato de um Imazighan. Saímos eu “amajagh” (homem) e a “tamajaq” (mulher) cumplices e parceiros, corações leves, pensamentos cheio de projetos e promessas. Roupas azuis carrego minhas crenças caminhando para Zambukaki.









Hugo Ferreira Zambukaki

Fotos Jô Muniz

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