sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Nomes e tradições continuadas.

Queria apenas estar feliz, mas sinto-me melancólico. Desses sentimentos em que se misturam alegria e pesar.


Recebi ontem a notícia da morte de Alberto Alves da Silva Filho, o Betinho filho do seu Nenê da Vila Matilde. Conheci Betinho nos momentos em que se misturaram a luta contra a Ditadura e a afirmação pelo resgate da cidadania. Nas articulações da candidatura de Franco Montoro, então candidato à governador de São Paulo, concorrendo com Paulo Maluf.




Vínhamos do Movimento Unificado Contra a Discriminação Racial  transformado em Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial por sugestão de Abdias do Nascimento numa reunião num casarão na Rua da Consolação (na Associação Cristã de Beneficência Brasileira a ACBB do presidente Seu Sebastião) de 1978, que fez o ato histórico na frente do Teatro Municipal contra a violência policial que havia morto Robson Silveira da Luz e contra a proibição dos atletas negros do Clube Tietê entrarem na piscina.
Sentávamos com as lideranças políticas que apoiavam a candidatura de Montoro, e discutíamos a questão do resgate da cidadania. Em 1980 os partidos organizado e legais eram a PDS (antiga ARENA) e o PMDB (antigo MDB) onde o PCB, PC do B e o MR8 permaneciam. Brizola e os retornados políticos tentavam reorganizar o PTB, e tendo perdido a legenda numa manobra política dos militares, criava o PDT tentando atrair Lula então apenas líder sindical no ABC.


Seu Nenê deve estar feliz com o Betinho que partiu apressado antes da hora, mas deixou um trabalho continuando a obra de seu pai, seus três filhos e um neto sempre se orgulharão de suas memórias Alberto Alves da Silva (Seu Nenê) e Alberto Alves da Silva Filho (Betinho) continuidade na luta.
Fundamental essa questão de nomes, ou melhor essas tradições de resistências de luta passadas pela família. Conosco em nos anos oitenta estava o prefeito cassado de Santos Esmeraldo Tarquínio Filho, e seu filho Esmeraldo Tarquínio Neto (chamado então de Esmeraldinho). Gente que respeita tradição e cria sua própria cultura resgatando nossa cidadania perdida quando nossos ancestrais foram escravizados.



Nesses anos começamos a colocar nomes afro em nossos filhos, encontro hoje jovens decididos, cheios de atitudes ocupando espaços na sociedade. Resgatando espaços e cobrando quando questiono a origem dos seus nomes, vejo nossa história de luta e militância, são nossos filhos fazendo seu caminho na vida. Muita alegria tive quando encontrei um rapaz com nome africano, num curso de edição de vídeo e descubro que é filho do amigo Oswaldo Faustino, sinto aos quase setenta anos realizado de estar presente com esses jovens.
A mesma alegria senti quando conheci uma jovem linda e poderosa, falando do orgulho da militância de seus pais, e descubro que é a filha do Ivair  Augusto Alves dos Santos, talvez a primeira filha daqueles militantes que se reuniam no CECAN Centro de Arte Negra no Bexiga.
Nomes e tradições continuadas.

Gostaria de apenas estar feliz e convidar para a celebração do lançamento do Livro Transversos do poeta Kwame Yonatan também filho do Ivair, na Casa das Rosas agora no dia 23. Mas a partida do Betinho assim de repente, me deixou pensando no significado dessa luta ancestral.



Nenhum comentário: