Queria apenas estar feliz, mas sinto-me melancólico. Desses sentimentos em que se misturam alegria e pesar.
Recebi ontem a notícia da morte de Alberto Alves da Silva
Filho, o Betinho filho do seu Nenê da Vila Matilde. Conheci Betinho nos
momentos em que se misturaram a luta contra a Ditadura e a afirmação pelo
resgate da cidadania. Nas articulações da candidatura de Franco Montoro, então
candidato à governador de São Paulo, concorrendo com Paulo Maluf.
Vínhamos do Movimento Unificado Contra a
Discriminação Racial transformado em
Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial por sugestão de Abdias
do Nascimento numa reunião num casarão na Rua da Consolação (na Associação
Cristã de Beneficência Brasileira a ACBB do presidente Seu Sebastião) de 1978,
que fez o ato histórico na frente do Teatro Municipal contra a violência policial
que havia morto Robson Silveira da Luz e contra a proibição dos atletas negros
do Clube Tietê entrarem na piscina.
Sentávamos com as lideranças políticas que
apoiavam a candidatura de Montoro, e discutíamos a questão do resgate da
cidadania. Em 1980 os partidos organizado e legais eram a PDS (antiga ARENA) e
o PMDB (antigo MDB) onde o PCB, PC do B e o MR8 permaneciam. Brizola e os
retornados políticos tentavam reorganizar o PTB, e tendo perdido a legenda numa
manobra política dos militares, criava o PDT tentando atrair Lula então apenas líder
sindical no ABC.
Seu Nenê deve estar feliz com o Betinho que
partiu apressado antes da hora, mas deixou um trabalho continuando a obra de
seu pai, seus três filhos e um neto sempre se orgulharão de suas memórias
Alberto Alves da Silva (Seu Nenê) e Alberto Alves da Silva Filho (Betinho)
continuidade na luta.
Fundamental essa questão de nomes, ou melhor
essas tradições de resistências de luta passadas pela família. Conosco em nos
anos oitenta estava o prefeito cassado de Santos Esmeraldo Tarquínio Filho, e
seu filho Esmeraldo Tarquínio Neto (chamado então de Esmeraldinho). Gente que
respeita tradição e cria sua própria cultura resgatando nossa cidadania perdida
quando nossos ancestrais foram escravizados.
Nesses anos começamos a colocar nomes afro em
nossos filhos, encontro hoje jovens decididos, cheios de atitudes ocupando
espaços na sociedade. Resgatando espaços e cobrando quando questiono a origem
dos seus nomes, vejo nossa história de luta e militância, são nossos filhos
fazendo seu caminho na vida. Muita alegria tive quando encontrei um rapaz com
nome africano, num curso de edição de vídeo e descubro que é filho do amigo
Oswaldo Faustino, sinto aos quase setenta anos realizado de estar presente com
esses jovens.
A mesma alegria senti quando conheci uma jovem
linda e poderosa, falando do orgulho da militância de seus pais, e descubro que
é a filha do Ivair Augusto Alves dos
Santos, talvez a primeira filha daqueles militantes que se reuniam no CECAN
Centro de Arte Negra no Bexiga.
Nomes e tradições continuadas.
Gostaria de apenas estar feliz e convidar para a
celebração do lançamento do Livro Transversos do poeta Kwame
Yonatan também filho do Ivair, na Casa das Rosas agora no dia 23. Mas a partida do Betinho
assim de repente, me deixou pensando no significado dessa luta ancestral.
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