domingo, 26 de agosto de 2012

Militância do Movimento Negro no Brasil

Num momento eleitoral, as preferências por candidatos ou partidos políticos se mostram nos movimentos sociais.

Muitas perguntas sobre os rumos dos movimentos, e mesmo a participação ou não participação em grupos e entidades. A ação individual ou coletiva?

No caso da coletividade negra, a questão das cotas divide, os favoráveis buscando uma ação coletiva, e os contrários acreditando que a ação individual resolve o problema da superação.

Muita fatos existem para serem discutidos e levantados. Há um artigo no Correio Nagô, postado por Wenceslau Santos de Belo Horizonte, bom início de levantar um debate:

 

 

“A Militância do Movimento Negro no Brasil.

Postado por Wenceslau Santos em 1 julho 2012 às 16:15

“A despeito de toda essa discussão concernente a racismo, exclusão social, identidade racial, etnia, ancestralidade, preconceito, enfim, todas essas questões que só quem vive no dia a dia, ou quem nasceu negro compreende, identifico nesse contexto algo muito semelhante ao que vemos na mídia todos os dias: muito discurso, poucas ações.

Estou falando do discurso dos “acadêmicos de plantão”, aqueles com os substantivos terminados em “ólogos”, não todos, mas a grande maioria só têm discurso vazio. Muitos falam de políticas disso, ou programas daquilo, ações afirmativas, discussões e mais discussões … mas e quanto às ações efetivas?

Todos os anos vemos milhares e milhares de pessoas nas grandes capitais do país em marchas representando os mais diversos temas. Por que não a marcha da “Consciência Negra”? Por que não sairmos do discurso e irmos para a rua? Por que não abordarmos a criança e o jovem negro ainda na escola; não como educador formal, mas como militante conscientizador.

E as redes sociais? Por que é tão inconsistente a mobilização negra nas redes? Será que é mais fácil permanecer no campo da discussão e do idealismo enquanto nossos jovens vagam por aí sem a mínima noção de quem são ou de onde vieram? Só letra de música com tema racial não vai adiantar ...

Reconheço sim que nossa cultura (negra), nossa história, nossos costumes, estão se perdendo. Também reconheço a maior característica do povo brasileiro, a miscigenação (que é vista como uma forma de “democracia étnica), como algo negativo para a população negra, na medida em que tal fenômeno disfarça o racismo e, mais que isso, cria uma pseudo-etnia. Mas deixa pra lá ...

Infelizmente a militância negra em certos aspectos parece andar em círculos. Alguns se levantam para defender a “Cultura negra”, outros, apesar de vivermos em um Estado Laico, se apegam à bandeira da religião como forma de luta; há ainda aqueles adeptos da teoria do “modismo negro”, que encarna na figura do ator, atriz, cantor, atleta, intelectual, enfim, da personalidade negra (que nem sempre se reconhece como tal) bem sucedida, como o ideal para toda a comunidade negra.

Mas qual é o caminho? Porque quando um negro se candidata a um cargo político ele não levanta essa bandeira a fim de ser reconhecido como um militante negro? Ou pior, quando um negro chega ao poder e o que deveria ser uma de suas tantas atribuições, representar a comunidade negra, é esquecido por ele. São tantos exemplos que não valem a pena serem citados. Pelo menos é o que acontece aqui em Minas Gerais, nós não temos uma liderança política que empunhe a bandeira da negritude.

Não sou adepto do modelo norte-americano de resistência do movimento negro, mas ele tem sim muitos aspectos positivos. Nos EEUU o racismo, principalmente até os anos 60, era agressivo, exposto, e de certa forma ainda é. Isso provocou a mobilização dos negros que tiveram que se unir para suplantar as dificuldades. Lá não faltam obras literárias para rememorar o passado negro. Aqui os livros de história contam a história do português empreendedor, do índio preguiçoso, e do negro escravo e sem alma.

Quando surge algo pontual, seja um programa de TV, ou um posicionamento agudo de um racista, surge a discussão, indignação, mas logo o caso é esquecido.

Acredito que o que nos falta é “resistência qualificada”, saber o que fazer, porque fazer, e quando fazer, temos que nos organizar melhor.

Há ainda outro aspecto muito interessante o qual não discutirei agora, mas lanço a discussão: O negro, das diversas partes do Brasil, tem uma leitura diferente de sua condição étnica em relação ao negro das outras regiões, e isso contribui para dilapidação da cultura negra como um todo.

Por isso amigos, a exemplo do que acontece na Bahia, devem existir pelo Brasil locais físicos como referência, e aqui não estou falando de manifestações culturais e religiosas, mas de centros de discussão e conscientização ao alcance de todos, principalmente daqueles com pouca informação, que infelizmente são maioria no universo negro.

Espero sinceramente não ter agredido ou menosprezado ninguém, sinceramente não é minha intenção, só expus minha opinião

Agradeço pela oportunidade de poder compartilhar ideias neste espaço tão democrático, eclético, e sobretudo “black”.

Ficarei feliz e receber o feedback, mesmo e, principalmente daqueles que discordarem de mim.

Um grande abraço a todos.

Wenceslau Santos”

http://correionago.ning.com/

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