Atual local do antigo Teatro Casarão. Demolido com o pretexto da criação de uma alça rodoviária, hoje há uma lanchonete.
Primeiro um recado na secretária eletrônica. Uma voz que os anos não modificaram a alegria e o entusiasmo. Douglas Franco como ele se apresenta na internet: ATOR TEATRO, CINEMA ,TV , DUBLADOR, ANIMADOR DE FESTA e no seu anúcio oferece-se para trabalhar: “PALHAÇO MUKIFO, OFERECIDO PARA TEATRO, CINEMA ,TV , DUBLADOR, ANIMADOR DE FESTA. PARA VER DE GRAÇA MEU VIDEO NO YOUTUBE ESCREVA "DOUGLAS FRANCO MOREIRA".
Douglas Franco em foto na internet
SOU PRE-HISTÓRICO, 69 ANOS, 42 DE PROFISSÃO, QUASE ESQUECERAM DE MIM. COMO PGTO. ACEITO VALE-TRANSPORTE, FERRADURA OU DENTADURA USADAS, PERUCA, MARCA-PASSO, ETC. LIGAR P / (OI) 91313486- DOUGLAS.
Estive viajando, quando voltei, Jô minha companheira de luta e vida, já havia falado com Douglas. Um encontro com os participantes do Teatro Casarão, um teatro experimental, que participamos em 1.967. Era no comecinho da Avenida Brigadeiro Luís Antonio, no número 156 no final do Viaduto entre o Largo São Francisco e a avenida.
Uma jovem pesquisadora de teatro iria fazer uma entrevista com os remanescentes fundadores do Teatro Casarão. Fujo de entrevistas, depoimentos, declarações... Tive uma vida plena, cheia de momentos importantes, envolventes. Tipo você estar no olho do furacão, e com o tempo essas histórias acumulam-se, tornam-se significativas, mostrando a sua trajetória, da cidade, e do tempo vivido.
São histórias pessoais que se tornam coletivas. Tive o prazer de ver essas histórias relatadas com o sabor de vivências, experiências alegres e dolorosas. Importantes porque marcam toda uma história de uma sociedade, contada a partir do pessoal e corriqueiro do nosso cotidiano.
A seguir conversei por telefone com Regina Célia Abrantes, participante e também entusiasmada com a perspectiva do encontro. Aí surge a conversa, típica de qualquer reencontro: Quem vai? ; Onde está fulano (a)? ; Quem não irá? ; Quem morreu?
Nesse momento é que tomamos contato com a brevidade da vida humana. Tantos já se foram, tantos contatos perdidos. Quanto mais tempo vamos vivendo, vemos que somos sobreviventes de uma época.
Tudo isso me deixou, muito pensativo, e além do mais detesto entrevistadores, que falam e perguntam demais. Sou um anti acadêmico, um devotado adepto da cultura popular, onde acadêmico não entra e nem passa. Deixei a data se aproximar, meio sem saber se iria. No Facebook e nos e-mails Regina continuava insistindo animada e calorosa.
Conclusão fomos. Jô e eu de trem e metrô, máquina digital e vontade de ver antigos companheiros, que não via há mais de 20 anos. Como todo mundo chega atrasado, incorporei os 20 minutos de atraso normal. Plena Avenida Paulista, sábado meio dia, no Centro Cultural Itaú. Ninguém na entrada, ninguém no salão, nenhuma informação no balcão da recepção. Um alívio de não encontrar nenhuma alma, e de coração leve voltar e dizer: Eu fui!
Numa última olhada no café, para deixar claro, que éramos os únicos a termos comparecido.
De uma das mesas alguém se levanta sorridente Eduardo Zá. Aproximo-me um abraço apertado de velhos amigos. Regina a tão insistente e carinhosa amiga propagadora do encontro.
Quase como fogo, histórias, lembranças, notícias. O Douglas havia acabado de telefonar, um problema na visão e não poderia vir. Como mágico fogo, toda a amizade, companheirismo daqueles finais dos anos sessenta, prenúncios dos setenta nos incendiou. Passados 45 anos os jovens que fôramos reviviam.
Hugo, Regina Célia, Eduardo Zá e a professora Junia.
Estabelecida essa mágica, chega uma jovem, apressada, trazendo cópias do trabalho do Eduardo Zá contando a trajetória do Teatro Casarão. Era Junia Magica, professora e pesquisadora da UNESP, coletando material para um trabalho acadêmico, armada de netbook gravador e paciência.
Com o fogo da juventude, revivemos fatos de quarenta e cinco anos passados. Como uma maquina extratora de ideias e lembranças vinham como torrente. Fogo no olhar, vozes fortes e saudosas, a experimentação do que é atual. Uma proposta popular de cultura.
Amigos que se foram outros sumidos, a importância do que fizemos, apenas fazendo representado aquele tempo. A professora Junia com a uma experiência que relembra Fernando Faro famoso entrevistador da TV Cultura, nos deixou à vontade. Atenta, ouvinte, amiga, parceria e cúmplice.
Netbook e gravador registro dos depoimentos
Tantos foram os bons momentos, a importância de um grupo de jovens, contestadores, experimentando e fazendo experiências com a cultura popular. Interagindo com o movimento cultural de uma São Paulo de na época de uns 2,3 milhões de habitantes. Que a pergunta da professora Junia ainda indaga na minha cabeça: “Por que não foram registradas essas atividades?”.
Centro Cultural Itaú dia 7 de julho de 12 – Av. Paulista
Reposta ou respostas? Não sei nem me preocupo, apenas tenho uma certeza outros Reencontros ocorrerão. Histórias têm de ser narradas. O coletivo do Teatro Casarão revive...
Fotos Jõ Muniz e Hugo Ferreira
4 comentários:
Querido amigo, Hugo, com o coração explodindo de alegria que leio esta postagem, unica, verdadeira que nos remete aos idos 70, porém honm prá nós, vergastados, mas inteiros. Que legal aquela imagem do local onde o então prefeito Maluf(com o perdão da palavra)demoliu, alegando construção de acesso de trafego, que não aconteceu, ficando apenas nossas pegadas alí.O Silas tambem se alegrará em contatar contigo.Abração irmão. Douglas
Estou tentando contato com o Silas e depois a gente festeja
Nobre Hugo: Temos uma história de alguns homens e mulheres que viveram os anos de chumbo grosso no Brasil. Nós do teatro Casarão passamos por este período cruel e violento. Éramos jovens resistindo a ignorância e preservando um direito de dar a cultura voz e a vez. Alguns componentes do Teatro CASARÃO: Walter Rocha, Douglas Franco, Eduardo Zá, Hugo Ferreira, Célia Regina, Arthur G. Filho, Hamilton D'Avila, Clemente Viscaino, Marcelino Buru, Lígia de Paula, Antonio de Padua, Célia Maracajá, Santos de Souza, Waldemar Sillas, Edoardo Coen, Maria Maria, Edibal Piveta, Waldir Kopesqui, Luis Santos, Benedito Lara, e muitos outros...
Espero que não seja efemero os fatos aqui relatados. Naquele dia 7/7/2012
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